Daniel Messeder Confesso que estava receoso quanto ao desempenho e consumo do C3 Picasso automático. Isso porque eu não guardava boas lembranças do Aircross nesse aspecto, lembrando que o aventureiro até então só tinha câmbio manual. Pois bem, encontrei o novo filho da linha Picasso e fomos logo resolver essas questões na pista de testes, em Tatuí (SP).
No caminho, pela rodovia Castelo Branco, já deu para sentir que os velhos sintomas desse conjunto motor-câmbio (o mesmo usado no C3) se repetem no Picasso, com o agravante do peso extra do modelo familiar – elevados 1.392 kg nessa versão Exclusive. Falta força ao 1.6 16V (113 cv e 15,8 kgfm a 4.500 rpm) nas saídas e retomadas, enquanto falta marcha (apenas quatro) e suavidade à transmissão. Principalmente nas mudanças de marchas baixas, como de primeira para segunda, não é difícil acontecer um tranco, ainda mais se você estiver exigindo tudo do acelerador.
Com o aparelho de medição (V-Box) instalado, C3 Picasso mostrou fraco desempenho na pista de testes
Bom, esse não foi o caso da viagem até a Tatuí. Por nosso método de medição de consumo, mantive o câmbio em Drive e a velocidade em 120 km/h, sem acelerações bruscas e sem usar o ar-condicionado. Mesmo nessa condição, o computador de bordo (realista) já anunciava que o resultado ruim. E a chegada ao posto só confirmou: média de 8 km/l na estrada, com 100% de etanol no tanque. Que me lembre, é o carro flex mais gastão que já testamos. Ainda falta o teste de consumo urbano, mas o computador de bordo está indicando algo na faixa de 5 km/l, também com etanol. Vamos tirar a prova em breve.
O que já comprovamos é o fraco desempenho. É sensível a falta de ânimo para o Picasso embalar, como comprova a aceleração de 0 a 100 km/h em 15,0 segundos. Conseguiu ser mais lento que o outro carro que testamos ontem, o pequeno e inofensivo Chery QQ 1.1, que cravou 14,6 s na mesma prova. Comparando com um rival direto, o Honda Fit LX A/T (que tem motor 1.4 16V de 101 cv e 13 kgfm) gasta 13,8 s.
As coisas melhoram depois que o Picasso ganha velocidade, já que as retomadas não são tão piores que as do Fit. Mas vale lembrar que o teste é feito apenas com o motorista e sem carga. Com a família a bordo e o porta-malas cheio, o C3 vai exigir paciência e cautela nas ultrapassagens. Por outro lado as frenagens foram boas, apesar do peso elevado e dos tambores na traseira (pelo preço, esse carro merecia freios a disco nas quatro rodas). Veja os números na tabela de testes abaixo.
Um carro moderno como o C3 Picasso merecia motor e câmbio melhores do que os do velho C3 nacional
Para não dizer que o teste foi de todo ruim, o ruído interno se revelou baixo mesmo quando o motor é exigido. A 120 km/h em Drive, o conta-giros aponta 3.500 rpm, mas a bem-isolada cabine se mantém silenciosa. No fim do dia, fiquei com a impressão de que o projeto moderno do C3 Picasso deveria ser acompanhado de uma mecânica tão atual quanto. Quem sabe o novo motor 1.6 16V da PSA (desenvolvido em parceria com a BMW), que gera 120 cv e já equipa o C3 Picasso europeu? Fica aí a dica para a Citroën do Brasil.
Confira os números de teste do C3 Picasso automático:
Aceleração
0-100 km/h (s) 15,0
0-400 m (s) 19,9
0-1000 m (s) 36,2 s
Velocidade a 1000 m: 148,2 km/h
Retomada de velocidade
40-80 km/h (D) 6,5 s › 112,6 m
60-100 km/h (D) 8,7 s › 194,1 m
80-120 km/h (D) 12,5 s › 353,1 m
Frenagem (com abs)
100 km/h (m) 41,8
80 km/h (m) 26,9
60 km/h (m) 15,0
Consumo
Rodoviário (km/l) 8,0
Auton. estrada (km) 440
Ruído interno
em marcha lenta 45,3 dB
a 40 km/h 53,1 dB
a 80 km/h 62,6 dB
a 120 km/h 69,3 dB
Fonte: Auto esporte